Image

O dia de Todos-os-Santos (1 de Novembro), em algumas povoações chamado de “Dia do Bolinho” ou “Dia do Bolinhós”, está associado a uma tradição em que as crianças saem à rua em pequenos grupos para pedir, de porta em porta, o Pão-por-Deus. Quando pedem o Pão-por-Deus recitam versos e recebem como oferenda: broas, bolinhos, pão, frutos como romãs, nozes, amêndoas ou castanhas. Em algumas regiões, era também costume os padrinhos oferecerem aos seus afilhados um bolo, de seu nome Santoro, um bolo comprido, com feitio de tíbia, conotado como uma espécie de pão bento.

A tradição do Pão-por-Deus tem registo no século XV, tendo origem no ritual pagão do culto dos mortos, com raízes milenares. No entanto, segundo consta, foi em 1756 que, cumprindo-se o 1º ano após o terramoto que destruiu Lisboa, a 1 de Novembro de 1755, dia que coincidiu com uma data com significado religioso, que de forma espontânea, a população aproveitou a tradição milenar, para desencadear, por toda a cidade, um peditório, com a intenção de manter uma tradição que lembrava os seus mortos. As pessoas percorriam então a cidade, batendo às portas e pedindo que lhes fosse dada qualquer esmola, mesmo que fosse pão, para matar a fome na cidade que tinha ficado ainda mais pobre na sequência do terramoto. Pediam assim: “Pão por Deus”. Noutras zonas do país, foram surgindo variações na forma e no nome da comemoração.  Algumas pessoas mais idosas relatam que no dia de Todos-os-Santos, em grupos, por idades,  batiam às portas dos mais ricos ou mesmo remediados, dizendo:

– Hoje é dia de Todos-os-Santos, dê-me uma esmolinha por alma dos seus fiéis defuntos.
Ou então:
– Não nos dá o Santoro?
Se o dono da casa correspondia ao apelo, essa esmola podia constar de: castanhas, figos, maçãs, batatas, feijão (principalmente pequeno), pão ou um copo de jeropiga.

Nas décadas de 60 e 70 do séc. XX, a data passou a ser comemorada, de forma mais lúdica, do que pelas razões que criaram a tradição e havia regras básicas, que eram escrupulosamente cumpridas:

  • Só podiam pedir o “Pão-por-Deus”, crianças até aos 10 anos de idade (com idades superiores as pessoas recusavam-se a dar).
  • As crianças só podiam andar na rua a pedir o “Pão-por-Deus” até ao meio-dia (depois do meio-dia, se alguma criança batesse a uma porta, levava um “raspanete”, do adulto que abrisse a porta).

A partir dos anos 80 a tradição foi gradualmente desaparecendo e, actualmente, raras são localidades onde se pratica esta tradição.

Em Fátima, ao que consta, esta tradição continua ainda viva, tal como em Famalicão, que mantém a tradição do “Santoro”. Duas padarias da cidade produzem bolos típicos da época dos Santos, tendo estes muita procura e referência na região. Assim, todos os anos, na semana dos Santos, se confecciona o “Sequilho”, também conhecido por “Bolo dos Santos” e “Pão Burneiro”, vulgarmente designado por “Língua da Sogra”.

Curiosidades:

Ao pedir o “Pão-por-Deus”, cantam-se as seguintes cantilenas, enquanto se anda de porta em porta:

“Pão por Deus,
Fiel de Deus,
Bolinho no saco,
Andai com Deus.””Bolinhos e Bolinhós
Para mim e para vós
Para dar aos finados
Qu’estão mortos, enterrados
À porta daquela cruz

Truz! Truz! Truz!
A senhora que está lá dentro
Assentada num banquinho
Faz favor de s’alevantar
P´ra vir dar um tostãozinho.”

Quando os donos da casa dão alguma coisa:

“Esta casa cheira a broa
Aqui mora gente boa.
Esta casa cheira a vinho
Aqui mora algum santinho.”

Quando os donos da casa não dão nada:

“Esta casa cheira a alho
Aqui mora um espantalho
Esta casa cheira a unto
Aqui mora algum defunto.”

Crédito da imagem: Lume&Ar 

 

Your email address will not be published. Required fields are marked *

*